Você sabe o que é Justiça Restaurativa? Flávia Martins Guimarães, pedagoga, psicopedagoga e terapeuta social, que coordena um projeto de implantação da Justiça Restaurativa na rede municipal de ensino de Campinas, foi uma das convidadas do curso de formação online de colaboradores da Cáritas Arquidiocesana de Campinas.

Com referências à música “Paciência”, de Lenine, e ao poema de Ricardo Reis (Fernando Pessoa) “Para ser grande, sê inteiro: nada”, Flávia sugeriu que todos associassem o próprio nome a um sobrenome, sinônimo de afeto. Alegria, resiliência, dedicação, humildade e paciência foram alguns deles.

O poema e a música deram tom e letra para a fala de Flávia – “É preciso ter inteireza no contato humano. A escuta pode humanizar, ser o remédio para a cura do mal, mas é preciso paciência. Pensar em Justiça Restaurativa é pensar não só numa nova prática, mas numa nova cultura”. O grupo foi questionado sobre o que é justiça, o que define o critério do que é justo e como sentir que a justiça foi feita; com o objetivo de esclarecer práticas diferentes dentro do sistema judiciário.

Flávia fez uma completa explicação, da qual seguem alguns pontos. A Justiça Retributiva oprime pela regra, com o objetivo de manter a ordem. Seu ponto de referência é o delito e não o indivíduo. Na Justiça Reabilitadora é oferecido um plano individual de atenção para a readaptação às normas. Já a Justiça Restaurativa tem foco nas pessoas como agentes da própria recuperação, para gerar consciência, autonomia, estimulando a humanização. As três formas não são excludentes, mas complementares. Há o momento de conter, o de reabilitar e o de restaurar.

O morador Olegário, da Casa Santa Dulce dos Pobres, interpelou a palestrante: Se a polícia parar, o que acontece? O sentido do justo é o ético! Sem arte, filosofia e religião o homem está fadado ao fim, é uma aberração! Flávia agradeceu a contribuição do morador para o debate, lembrando que o ser humano pode estar, mas não é uma aberração, e completou:

“Se precisamos de controle, é porque não desenvolvemos a consciência ética. A essência humana é boa, já que o homem foi criado para ser imagem e semelhança de Deus, mas humanização é algo que também se aprende, se constrói, se conquista. É preciso estimular a corresponsabilidade nessa construção. A dimensão humana é estar no mundo com o outro e não sobre o outro. Se oferecido um espaço seguro, o outro se vê e vê o que fazer como inteligente e capaz que é de servir o coletivo”.

“Será que evoluímos no conceito de justiça? Quem sai da cadeia, volta para o mundo igual ao que deixou, mas a sociedade quer que ele haja diferente. É preciso afetar o outro com delicadeza, com humanidade porque o homem é o meio de trazer a justiça de volta. Temos que restaurar os relacionamentos e isso dá muito mais trabalho”, ressaltou Flávia.

Ao fim, Jair, hoje morador da Casa São Francisco de Assis, agradeceu à palestrante com a certeza de sua própria humanidade. “Obrigada, suas palavras já estavam no meu coração”.

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