No final do ano passado, com apreensão se perguntava – Haverá Natal? A questão se colocava por conta da pandemia que ainda nos obriga ao distanciamento social.
Jamais poderíamos imaginar que a pergunta se faria de novo, hoje – Haverá Páscoa?
Sem o mesmo tom poético da resposta à festa do Natal, certamente podemos afirmar – Sim haverá Páscoa.
Celebramos a Páscoa em dois níveis: na fé e na vida. Celebramos a Páscoa em três dimensões: páscoa do pão (Ceia do Senhor) páscoa da cruz (paixão – morte – sepultamento do Senhor) e a páscoa da luz (Ressurreição). É o Tríduo Pascal.
Páscoa do pão. Quem de nós já não viu e contemplou o quadro da Santa Ceia, de Leonardo da Vinci, nas Igrejas ou mesmo nas casas?
Assim como aqueles discípulos estão ali em torno da Mesa com o Senhor, também nós celebramos a Ceia do Senhor, não só na quinta feira Santa, mas em todos os domingos ao longo do ano. Como eles somos convidados a participar da comunhão do pão da vida e do cálice da bênção, Corpo e Sangue do Senhor, sob as espécies do pão e do vinho. “Venham, venham todos para a Ceia do Senhor…”
Entretanto, quem compartilha do pão da mesa do altar, compromete-se a partilhar o pão com os irmãos(ãs); o pão nosso de cada dia e o pão da vida, através da compaixão, solidariedade, acolhimento e cura das feridas.
Vemos o pão da vida sendo partilhado, perigosamente pelos profissionais de saúde e demais envolvidos com os doentes da Covid, em hospitais, enfermarias, UTIs e nas casas pelos próprios familiares.
Páscoa da cruz. Talvez, não haja símbolo religioso mais espalhado, visivelmente à mostra, que a Cruz: nos templos, nas casas, nos cemitérios, nos lugares altos (os cruzeiros), nas praças, ao longo das estradas, em pulseiras e gargantilhas e até em tatuagens. Grande é a devoção do povo ao Crucificado, ao Senhor dos Passos.
Do alto da cruz, encimada no Calvário, de braços abertos o Senhor abraça toda a humanidade e derruba o muro da separação e faz de todos os povos um só. Cristo é a nossa paz. (Ef 2,14).
De seu coração lancetado jorra o sangue redentor e brota a água regeneradora – “Quem beber dessa água, nunca mais terá sede, porque a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água, jorrando para a vida eterna.” (Jo 4,14) – “Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”.( Jo 12.32).
Na sexta feira santa, celebramos a paixão, morte e sepultamento do Senhor, de forma silenciosa, compassiva e piedosa, com cânticos de lamentação, porém esperançosos!
Nos rostos dos crucificados da história contemporânea, contemplamos o rosto do Senhor crucificado. São rostos de homens, mulheres, jovens e crianças… Hoje, como não fazer memória das vítimas da Covid em nosso país e no mundo inteiro? “Basta o menor e mais informe elemento da natureza, um vírus (invisível) para nos recordar que somos mortais…” Memória das vítimas da violência de todo tipo; e das que morrem de fome, inclusive crianças.
É o corpo de Cristo ferido e caído no chão do caminho de nossa dolorosa contemporaneidade.
Felizmente nunca faltam bons samaritanos e Cirineus!
Páscoa da Luz da Ressurreição.
Dentre as narrativas evangélicas destacamos, parcialmente, a de Lucas e a de Mateus referentes à Ressurreição.
“Por que estais procurando entre os mortos, aquele que está vivo? Não está aqui. Ressuscitou.” (Lc 24,5). Mensagem dos anjos às mulheres!
“E, o próprio Jesus veio-lhes ao encontro e disse: Alegrai-vos… Não tenhais medo”. (Mt 28,9) São as primeiras palavras de Jesus Ressuscitado.
Ora, a Igreja, desde seus primórdios, faz memória deste acontecimento fundante da fé cristã em suas celebrações: na vigília pascal, no domingo da Páscoa da Ressurreição e em todos os domingos ao longo do ano.
Na vigília Pascal irrompe na escuridão da noite a luz resplandecente do Círio Pascal, símbolo do Crucificado Ressuscitado: Eis a Luz de Cristo… Aleluia! “Com os olhos iluminados pela luz de Jesus Cristo Ressuscitado, podemos e queremos contemplar o mundo, a história…” (DAp. 18) e hoje todos os nossos irmãos brasileiros espalhados por esse imenso país, especialmente, porém, os mais pobres e vulneráveis, às consequências econômicas (fome) e sanitárias da pandemia.
Esse olhar desperta em nós sentimentos de empatia, compaixão e de solidariedade que nos motivam e levam a compromissos concretos para a superação da desigualdade e de todo tipo de exclusão social.
À luz da Ressurreição ampliam-se os horizontes e ganham novo vigor as palavras do Senhor: “Dai-lhes, vos mesmos de comer!” (Mc 6,37) e, “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10;10).
“Cristo Ressuscitado, bálsamo da vitória da vida sobre a morte, seja perseverança em nosso caminhar”. (CNBB).
Feliz e Santa Páscoa!
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