Depoimento de uma moradora do abrigo Santa Clara
“ Eu morei com minha mãe até os 14 anos, e não tive contato com meu pai biológico por ter sido abusada por ele quando era criança. Depois dos 14 anos saí da casa da minha mãe, também por situação de abuso do companheiro dela. Foi quando comecei usar drogas e aos 17 anos viver na prostituição. Depois dos 18 anos fiquei gravida da minha primeira filha, e minha mãe me ajudava a cuidar dela quando eu ia trabalhar ainda na prostituição. Depois de 3 anos tive meu filho, mas não tinha condições de criar e entreguei para o pai poder criar com a esposa dele, e fiquei tendo contato por 3 anos.
Nesse tempo, fiquei vivendo com minha filha em casa de outras pessoas, e sempre desde criança sendo acompanhada pela assistência social. E em 2020, eu morava com um companheiro, mas por conta das violências eu saí da casa dele e não tinha para onde ir, e o CRAMI me encaminhou para o SAMIM e depois vim para o Santa Clara. Foi quando eu passei a primeira vez. Foi aí que minha vida começou a mudar, porque eu consegui ir para o Mão amiga, aprendi como cuidar e proteger minha filha e aluguei minha casa.
Depois meu filho veio morar comigo, mas eu não tinha vínculo com ele, estava sem emprego, e aí acabei perdendo ele e ele foi para o acolhimento. Em seguida minha filha Emanuelle também foi. Só que eu não tinha como cuidar dos dois, então entendi que seria melhor ele ter uma família pra cuidar dele. E aí ele foi adotado. Depois com a ajuda da equipe daqui do Santa Clara, eu consegui a guarda da minha filha de volta. E estava morando ainda de aluguel.
Depois comecei a namorar, fui morar com ele e fiquei gravida de novo. Mas, aí também por conta de situação de violência e para proteger minha filha eu saí e fui morar com minha mãe e irmã. Mas, mesmo assim, lá eu também estava passando fome, elas levavam companheiros na casa e fiquei com medo de deixar minha filha em risco, sofrer violência e depois passar dificuldade também com a bebê que vai nascer.
Aí, de novo conversei com a equipe aqui do Santa Clara e fui orientada procurar o SAMIM. Fui para o SAMIM e voltei para o Santa Clara. E então desde que vim para o Santa Clara em 2020, sempre tive apoio em todas as situações aqui dentro e fora também, eu sempre falava com a equipe, e desde a primeira vez eu nunca mais voltei a me prostituir, e nem deixar minha filha mais na casa da minha família e nem com ninguém, consegui entender que eu precisava fazer diferente na vida da minha filha para ela não passar o que eu, minha irmã e minhas sobrinhas passamos, porque eu não quero que ela seja comigo como sou com minha mãe e nem como minha mãe é comigo, eu quero poder conversar sobre tudo com minhas filhas, ensinar sobre tudo na vida, não quero que elas aprendam na rua como foi comigo. Eu não quero que ela e nem a bebê passe por tudo o que passei.
Aí, eu entendi como proteger minha filha e me proteger também, pois isso não fiquei com meu ex-companheiro. Eu aprendi também a organizar meu dinheiro e agora eu quero poder ter minha filha em um espaço seguro e me organizar depois pra ter minha casa de novo com minhas filhas. Eu aprendi ser mãe e a me cuidar aqui no Santa Clara. Nossa, contando assim, eu vejo que sou muito guerreira.”
*Imagem gerada com IA
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